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29 de abril de 2025
A Admiração no Relacionamento: Por Que a Perdemos, Como Evitar e Como Recuperá-la?

A importância da admiração no amor


Admiração não é apenas um “bônus” dentro de um relacionamento — ela é um de seus pilares estruturais. Admirar o parceiro significa reconhecer nele qualidades que nos inspiram, nos desafiam positivamente ou nos conectam ao que é valioso para nós. Como afirma o psicólogo John Gottman, especialista em relacionamentos conjugais, a admiração é um dos principais “antídotos” contra o desprezo — sendo uma das quatro atitudes mais corrosivas nos relacionamentos, segundo suas pesquisas com mais de 40 anos de observação empírica.


Sem admiração, o amor pode sobreviver por hábito, dependência ou conveniência — mas não por escolha consciente.


Mas, por que perdemos a admiração no relacionamento?


O desgaste da idealização é um dos principais fatores, principalmente nos dois primeiros anos do relacionamento. No início do relacionamento, é comum idealizarmos o parceiro. Como propôs Freud, nos apaixonamos mais por uma imagem construída por nossas necessidades do que pela pessoa em si. Com o tempo, a convivência revela a realidade — falhas, limitações e traços que não estavam visíveis no encantamento inicial. Se essa transição da idealização para a realidade não for bem elaborada, nasce a frustração — e morre a admiração.


A estagnação emocional e pessoal por parte de um dos cônjuges ou do casal contribuem para a falta de perspectiva e admiração. Relacionamentos bem-sucedidos dependem não apenas da conexão entre os parceiros, mas do desenvolvimento individual de cada um. Carl Rogers enfatizou que a tendência à autorrealização é natural e necessária ao ser humano. Quando um parceiro para de evoluir — seja intelectualmente, emocionalmente ou profissionalmente — ele pode deixar de inspirar o outro(a).


O poder corrosivo da rotina sem presença contribuem diretamente para a perca da conexão do casal.

A rotina em si não é o problema — mas sim a ausência de presença e intenção dentro dela. Casais que param de se interessar genuinamente pelo mundo interno um do outro, que deixam de compartilhar pequenas conquistas ou apoiar sonhos, caem em uma convivência funcional, quase como colegas de quarto. A admiração, que precisa de vitalidade e novidade, se esgota.


A falta de vulnerabilidade e verdade emocional levam o casal a perderem a essência da relação a dois e abrem brechas para discussões racionalizadas que impedem de enxergarem uma saída saudável. Brené Brown, pesquisadora da Universidade de Houston, mostrou em seus estudos sobre vulnerabilidade que não existe intimidade sem exposição emocional. Quando os parceiros deixam de se abrir, de mostrar suas fraquezas e sonhos mais íntimos, a relação empobrece. E a admiração se nutre da autenticidade e da racionalidade e não da espaço para a construção e nutrição da relação.


O papel das amizades e da família na perda da admiração


Muitas vezes, a admiração por um parceiro é corroída indiretamente por amigos ou familiares que criticam, zombam ou desvalorizam o cônjugeseja de forma direta (“ele é muito fraco”,"quem ele acha que é","ele é feio(a) demais para você aguentar isso") ou sutil (“você merecia alguém melhor”,"já falei que está perdendo tempo com ele(a)","aquele(a) moreno(a) do trabalho te dá mole e você perdendo tempo"). Segundo a psicologia social, os julgamentos alheios afetam nossa percepção, especialmente quando vêm de figuras próximas e com autoridade emocional.


Redes sociais, grupos de amigos e comentários de familiares frequentemente colocam casais em uma dinâmica de comparação (“fulano já foi promovido?”, “vocês ainda não viajaram?”, “ele não te ajuda com nada em casa?”). Comparações aumentam o descontentamento e diminuem a capacidade de valorizar o que o parceiro realmente é — substituindo a admiração pela cobrança.


Membros da família controladores ou amizades tóxicas podem, consciente ou inconscientemente, interferir no espaço íntimo do casal. Quando uma das partes prioriza os desejos dos pais, irmãos ou amigos em detrimento da relação, o outro parceiro pode se sentir invalidado, sem prioridade, e perder o respeito — primeiro emocional, depois existencial.


Quando uma amizade ocupa o espaço que deveria ser de cumplicidade conjugal (por exemplo, alguém que sabe mais da sua vida emocional do que o seu cônjuge), cria-se um desequilíbrio. Isso pode alimentar desconfiança, insegurança e distanciamento — minando o terreno da admiração.


Como evitar a perda da admiração?


Faça elogios explícitos. Estudos mostram que casais felizes fazem pelo menos 5 interações positivas para cada negativa. Diga: “Admiro sua dedicação ao trabalho”, “Te acho corajosa por ter enfrentado aquilo”, “Amo como você trata nossos filhos.”


Incentivem hobbies pessoais e conquistas individuais, mas também estabeleçam metas de crescimento conjuntas — como aprender algo novo juntos, viajar, ou construir um projeto de vida em comum.


Estabeleçam limites claros com amigos e familiares. Isso não significa afastamento, mas delimitação saudável. Um casal forte não se isola, mas também não terceiriza sua intimidade emocional, não aceitam desrespeito familiar com seu cônjuge, pelo contrário o(a) protege em sinal do amor um do outro.


E, por último, conversem sobre o que admiram um no outro. Quais foram os momentos em que se sentiram mais inspirados? O que mudou desde então? Essa conversa pode reativar memórias e sentimentos esquecidos, servindo como ponto de reconexão.


É possível recuperar a admiração perdida?


SIM. Mas exige esforço consciente, disponibilidade emocional e resgate da história emocional do casal.


Estratégias práticas:

  1. Terapia de casal: Intervenções baseadas em evidências, como a Terapia Focada nas Emoções (EFT), ajudam casais a reorganizar a dinâmica emocional e resgatar sentimentos positivos.
  2. Carta de admiração: Um exercício eficaz é escrever uma carta listando o que você já admirou no parceiro e o que sente falta — com foco em sentimentos, não acusações.
  3. Atos de presença: Reduzam distrações (como celular e TV) durante momentos juntos. Ouvir com atenção ativa pode ser mais restaurador do que qualquer discurso preparado.
  4. Criação de novos rituais: Rotinas com intenção (ex: cafés da manhã juntos aos domingos, caminhadas noturnas, projetos conjuntos) geram momentos de conexão.

Algumas reflexões sobre a perca da Admiração no Relacionamento.


A admiração não se perde de uma vez — ela se dissolve em pequenos gestos negligenciados, conversas não ditas e prioridades mal definidas. Mas assim como se desfaz, também pode ser reconstruída, desde que haja desejo mútuo, coragem para rever padrões e disposição para olhar o outro com novos olhos.

Como disse o filósofo dinamarquês Kierkegaard, “amar não é apenas olhar um para o outro, mas olhar juntos na mesma direção”. E admirar é, sobretudo, escolher continuar vendo o outro como alguém que vale a pena — mesmo com todas as suas imperfeições.